Apenas mais um romance policial


Antes das guerras os tempos já eram difíceis. A crise econômica mundial espalhava medo, miséria em todo o planeta. Famílias inteiras que viviam com todo luxo e conforto de um dia para noite amanheceram morando em tendas nas ruas.

A violência proliferava em cada canto da cidade, um grande sentimento de angústia e desespero abatia o coração de todos.

O governo oprimia e condicionava o povo a níveis nunca vistos antes, numa ditadura sutil, silenciosa e subliminar, deixando claro o rumo das políticas para um futuro sombrio e cada vez mais perigoso.

O inferno e o céu presente a todo instante, o amor e o ódio acessíveis a quem quisesse buscar. A batalha estava clara.

A juventude em sua grande maioria se distraía com as banalidades da televisão, ou abusando do consumo de drogas, sexo e objetos. Se anestesiando diariamente, se suicidando homeopaticamente. Alguns porém optaram canalizar sua rebeldia e insatisfação com as artes. Mas infelizmente, esse movimento foi controlado pelo IV Reich, idiotizando e subvertendo as reações artísticas mais libertadoras para mais um aspecto da vaidade ou um produto em oferta no mercado.

Mas em todos os lugares existem os sobreviventes, e na internet havia um grupo de hackers que traficavam informações de conteúdo mágico anarquista, altamente revelador, deixando de cabelo em pé os mestres dominantes que detinham a Ordem.

Era uma minoria de pessoas que estavam antenadas com essas estranhas idéias, investigadas exaustivamente por pessoas de todo mundo, compartilhando suas descobertas e desvendando quebra cabeças dos antigos mistérios da existência humana, e assim, novas possibilidades eram reveladas.

Óbvio, que os mestres do universo não gostaram nadinha dessa confusão, e criaram um decreto que institucionalizava a censura na internet. Os invisíveis, indignados, partiram para o ataque, criaram zonas autônomas temporais nas cidades, onde aconteciam reuniões com as pessoas dos mais variados lugares, ramos , crenças, para discutir e buscar soluções e maneiras para sobreviverem a Agenda.

Existia um grupo conhecido pelo nome de Setor, dizem que eles se encontravam em algum gueto da Nova Amsterdã.

Eram poucos, criativos e barulhentos, formados por músicos, professores, atores, filósofos, advogados, tinham um plano coordenado em conjunto, juntamente com vários outros grupos em diversos pontos do mundo, de executarem um grande atentado terrorista poético, em escala global, para revelar a grande população os planos da conspiração.

Os encontros aconteciam esporadicamente, ninguém falava sobre o lugar, nem o que era discutido por lá. As pessoas eram convidadas através dos próprios membros, através de um teste de sintonia e afinidades. Uma questão de vibração. Num desses encontros surge no Setor, uma linda jovem morena, de largo sorriso, e bela silhueta. Vinda de uma longa viagem pela Europa. Seus interesses eram por bruxaria e filosofia hermética e dizia a todos que fazia cinema. Logo se surpreendeu com o conteúdo de idéias que eram discutidas ali. Percebeu o quão ilusório eram seus sistemas de valores, descobriu alguns segredos do oculto, e sentiu que existiam mais grades na prisão do que ela poderia imaginar. Resolveu participar mais das atividades, inclusive tendo uma paixão arrebatadora por Lord, O Belo. Jovem descendente da realeza inglesa, que abandonou seu reinado para fazer música de verdade pelo mundo . Foi ele quem convidou a participar das reuniões secretas.

Durante os preparativos para o grande ato terrorista, não se sabe até hoje como aconteceu, se foi por descuido, ou traição, sentinelas do governo oculto interceptaram sinais de comunicação entre as células dos invisíveis, descobrindo então, todos seus planos e a localização do esconderijo.
Os invisíveis do Setor, tiveram que fugir, fizeram isso, um dia antes da batida policial. Se dispersaram pela City, e um grande silêncio foi feito por parte dos integrantes.

Dímas, assim ficou conhecido, pois ele mudava de codinome a cada instante, era um dos sub comandantes da célula do Setor, que reconhecia o fracasso, mas não aceitava a desistência do ataque. Ele acreditava na reorganização das células, sabia que era um ato quase suicida e utópico, e faria de tudo para tentar novamente realizar o atentado terrorista poético.

Num desses encontros casuais, Dímas esbarrara com Cigana, assim ficou conhecida a misteriosa morena que aparecera no Setor antes dele acabar. Trocaram olhares, reconheceram-se e marcaram de conversar numa cachoeira, um lugar seguro das lentes dos satélites, permitindo diálogo mais privado.

Cigana contara a Dímas que era filha de pais ricos, donos de uma empresa de lixo, que fazia a coleta de toda a cidade. Um negócio lucrativo, onde a matéria prima nunca acaba. E que por isso, reconhecia que vivera muito tempo da ilusão da matéria e nos prazeres do luxo. E que depois de ter conhecido uma nova perspectiva da realidade, queria profundamente mudar e tentar fazer alguma coisa para impedir a implementação da Nova Ordem. Como vinha de família rica, estava disposta a usar todo seu dinheiro para ajudar na causa. E contava com Dímas, para a construção de um novo Setor. O atentado terrorista poético precisava acontecer. Nem tanto pelo efeito da bomba, mas pelo ato simbólico de dizer que os invisíveis não tinham se entregado.

Cigana achou um lugar perfeito, conseguiu laptops, rede wireless, com vpn em servidor autenticado, toda a estrutura necessária para recriação do novo Setor. E numa noite de lua Cheia, Dímas e Cigana, depois de um longo dia de trabalho, permitiram que seus corpos se entregassem numa linda e intensa noite de volúpia e prazer.

No dia seguinte, Dímas era preso ao acordar, com um mandato de prisão conseguido através de uma falsa conversa num chat de internet, que afirmava um plano de vendas de drogas no local. Fora acusado de tráfico de entorpecentes, que por sinal, fora encontrado na casa, implantando pelos próprios policiais, além de aliciamento de menores, até então, ninguém sabia que Cigana era menor de idade, além de formação de quadrilha e posse de material subversivo ilegal contra a ordem e o progresso. Autora da acusação: A mãe de Cigana; Resultado: Dímas condenado a 40 anos de reclusão.

Pessoas próximas da mãe de Cigana alegaram que ela era uma pessoa muito depressiva, materialista e controladora e que vivia dopada por calmantes. E percebendo o comportamento rebelde de sua filha, resolveu achar um culpado por toda aquela mudança de postura, não queria ver sua herdeira se envolvendo com um marginal terrorista e o pior... que não trabalhava, vivia de poesia. Queria afastar esse mal elemento da sua filha, dar-lhe uma lição nela e todos que quisessem chegar perto de seu bibelô, e ainda colocá-la num colégio interno na Suíça, para que ela cursasse faculdade de Administração e assumisse seu lugar nos negócios da família num futuro próximo.

Algumas pessoas cruzam os braços e não aceitam essa versão. Dizem que a mulher era membro da Irmandade, e através da sua filha conseguiu prender Dímas, que já estava sendo procurado há tempos.

Há quem diga que Cigana largou tudo e hoje vive com os selvagens. Dizem que ela poderia também estar envolvida no dia em que a comunicação dos invisíveis foi interceptada. Lord, o Belo, completamente seduzido pela tal morena, havia feito compras em seu cartão de crédito, permitindo assim que os sentinelas os achassem. Afirmam também que depois da prisão de Dímas, ela se arrependeu e fugiu. Ninguém confirma esses boatos.

Na prisão, Dímas deu sorte, caiu numa cela, em que alguns prisioneiros eram também invisíveis, ciberxamãs, presos por "crimes na rede". Ensinaram a ele, um poderoso chá com uma mistura sagrada de ervas, e com o uso de um pen drive, era possível através de um ritual na lua Nova, retirar o chip, que seria colocado a força nas pessoas quando fosse oficializado o Governo Mundial.

Enquanto esteve preso, estudou sobre direito, administração, economia, e quando houve a Grande Catástrofe, o mundo num grande caos, no presídio, a confusão mundial facilitou aos presos realizarem uma grande rebelião. Aproveitando do distúrbio, Dímas conseguiu fugir, levando consigo a pulseira de identificação de um policial morto no confronto com os presos.
Com essa pulseira e ajuda de um amigo advogado, um invisível dos tempos de Setor, Dímas tirou novos documentos, ficando com uma nova identidade. Agora conhecido como Gabriel Vásquez, fora recomeçar sua vida indo assim procurar um emprego. No período de reconstrução do Admirável Mundo Novo, pós catástrofe, só era possível conseguir trabalho com limpeza, segurança, ou ser operário em grande obra. Dímas, ou Gabriel conseguira ser admitido na maior empresa de coleta de lixos do bloco Sul: Limpeza & Estética. Sua função: servente de serviços gerais, um simples varredor de chão. Em 6 meses de muito esforço e disciplina já era supervisor da área de limpeza urbana e numa tentativa de seqüestro de rebeldes selvagens da zona oeste, Gabriel Vásquez salvou a vida da dona da empresa em que trabalhava. Nesse instante, ao saltar por cima dela durante o tiroteio, Gabriel cruza o seu olhar com sua patroa, e com o todo o ódio contido, acabara de salvar a vida da mulher que o prendera injustamente por 9 anos e com isso, destruído todos os seus planos.

Terminada a confusão, Gabriel Vásquez era promovido a chefe de segurança de toda a empresa. Tendo todas as chaves dos portões da City e preciosas informações de segurança.
Durante mais uma recessão econômica, o mercado global tornara-se instável, e numa eficiente jogada de investimentos na bolsa de valores, fez com que Gabriel Vásquez passasse a ser o dono majoritário da empresa Limpeza & Estética, deixando assim a mãe da Cigana, até então dona e milionária, em completa miséria. E num ato de compaixão ou ironia, Gabriel convida a mulher que outrora o condenou inocentemente a 9 anos de prisão, a ser sua empregada doméstica, oferecendo inclusive um quartinho para ela morar. Era isso ou morrer de fome pelas ruas da City. Óbvio que ela aceitou. Sem nunca saber o passado que tivera com seu novo patrão.
Gabriel Vásquez, aparece hoje em capa de revistas, como um dos empresários mais bem sucedidos entre os civilizados. E graças aos caminhões de lixo da Limpeza & Estética, que os selvagens recebem armas, remédios, mantimentos e comidas. Por enquanto os sentinelas não perceberam nada. E a guerra contra a resistência vai ficando cada vez mais intensa. Antigamente eles usavam um carro chamado de "caveirão", agora nos atacam com robôs com inteligência artificial, chamados de...

JORNAL NOVA ERA:
Zumbis acertam 11 selvagens na Zona Sul.


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Oleh

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